A história de um “cara” descolado chamado Fernando. Ele foi um conhecido cão de rua que viveu na cidade de Resistencia, na Argentina, nas décadas de 1950 e início dos anos 60. O cachorro apareceu de repente, na véspera de Natal de 1951, em um bar daquela cidade, buscando refúgio de uma forte tempestade. Foi quando deitou-se aos pés de Fernando Ortiz, cantor de bolero que, a partir daquele momento o levava consigo em suas atuações, locais onde as pessoas começaram a pegar carinho pelo cachorro.
A história de um “cara” descolado chamado Fernando
A rotina de Fernando
Fernando conseguiu conquistar o coração dos habitantes de Resistencia e fez da cidade seu lar. Todos queriam recebê-lo em suas casas ou passar um tempo com ele nos bares e restaurantes que frequentava. Foi assim que ele logo desenvolveu uma rotina que geralmente consistia em:
Dormir na recepção do Hotel Colón.
Tomar café com leite e croissants no escritório do gerente do Banco Nación.
Visitar o cabeleireiro localizado ao lado do Bar Japonês.
Almoçar no restaurante El Madrileño ou no Sorocabana.
Tirar uma soneca na casa do Dr. Reggiardo.
Correr atrás dos gatos na praça principal.
Jantar no Bar La Estrella.
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Dotes de crítico musical
Dizia-se que Fernando tinha bom ouvido para música. Assistia a concertos, festas públicas e privadas e carnavais. Ele sempre tinha um lugar privilegiado nessas ocasiões. Costumava sentar-se ao lado da orquestra ou dos solistas e abanava o rabo em sinal de aprovação. Mas se alguém errasse uma nota ou desafinasse, ele começava a rosnar ou uivar e, eventualmente, se mandava do local, para delírio dos presentes.
Muitas vezes as críticas ao show no dia seguinte dependiam das reações que o cachorro tinha. Não faltou a nenhuma atividade em que houvesse música. Ele até desaprovou um importante pianista polonês que deu um recital lotado no salão principal da cidade. Fernando resmungou algumas vezes, o que levou o músico a se levantar da cadeira no final do show e admitir: “Ele tem razão. Eu errei por duas vezes.”
Nenhum viajante passava pela cidade sem procurá-lo para tirar fotos com ele. As pessoas da época contavam coisas surpreendentes sobre Fernando, como seu estranho hábito de aparecer inesperadamente em exposições, shows, conferências, aniversários ou casamentos. Um dia ele estava ao lado do então presidente Juan Domingo Perón na varanda do Ministério da Saúde Pública, comportado como correspondia à ocasião. Sempre havia uma cadeira para ele no Clube Social da cidade.
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O fim de uma bela jornada
Na manhã de 28 de maio de 1963, encontraram-no moribundo, atropelado por um automóvel na praça em frente à Casa do Governo. Sua morte foi notícia nacional, porque até os jornais de Buenos Aires a ecoaram. Altas personalidades, delegações municipais e culturais, estudantes e vizinhos levaram-no à sua última morada, na aldeia de Fogón de los Arrieros. Foi um dia de profunda e sincera tristeza para Resistência, e muitos estabelecimentos comerciais fecharam as portas, em sinal de luto.
Após sua morte, recebeu muitas homenagens de músicos e artistas, também duas esculturas na cidade: uma em seu túmulo e uma outra em bronze em frente à Casa do Governo provincial. Em uma das entradas da cidade, pode-se ler uma saudação ao viajante em uma placa que diz: “Bem-vindo a Resistência, cidade de Fernando”.